Na terça-feira, 2 de dezembro de 2025, um gesto simbólico virou marco histórico: uma moeda institucional da Polícia Civil do Acre entregue nas mãos do superintendente da Polícia Federal em Rio Branco. Mas não era apenas um presente. Era o sinal de que as duas forças, por anos separadas por burocracias e silos operacionais, finalmente decidiram agir como uma única máquina de combate ao crime. O acordo de cooperação técnica, assinado na sede da Polícia Federal no Acre, não trouxe dinheiro nem novos agentes — trouxe capacidade. E isso pode mudar tudo.
Um presente que vale mais do que parece
A Polícia Civil do Acre (PCAC), liderada pelo delegado-geral José Henrique Maciel, entregou ao superintendente Carlos Rocha Sanches uma moeda comemorativa — um objeto de valor simbólico, mas carregado de significado institucional. Em contrapartida, a Polícia Federal respondeu com duas maletas de papiloscopia de última geração, equipamentos que permitem capturar impressões digitais em superfícies complexas, mesmo em condições adversas. Essas maletas foram encaminhadas imediatamente ao Instituto de Identificação da Polícia Civil do Acre, onde serão usadas em investigações de homicídios, roubos e tráfico.Isso não é um detalhe. É um salto tecnológico. Até então, o Instituto dependia de máquinas antigas, muitas delas com mais de dez anos de uso. A nova tecnologia reduz o tempo de identificação de suspeitos de dias para horas — e isso, em um estado com fronteiras tão extensas quanto as do Acre, é uma vantagem tática brutal.
Por que isso importa agora?
O Acre tem 3.200 quilômetros de fronteira com a Bolívia e o Peru — uma linha invisível, mas cheia de trilhas, rios e pontos de entrada clandestinos. O tráfico de drogas e armas não é um problema isolado: é um sistema transnacional, com células que operam de Manaus a Rio Branco e depois para São Paulo. Em 2024, segundo dados da Polícia Federal, houve um aumento de 47% nos apreendimentos de cocaína no estado, comparado ao ano anterior. E a maioria dessas drogas entra por vias não monitoradas por sistemas de vigilância eficazes."Essa parceria representa um avanço significativo para o fortalecimento da segurança pública no Acre. A troca de conhecimentos, tecnologias e recursos nos permitirá agir com mais eficiência e precisão na elucidação de crimes", disse José Henrique Maciel. E ele não estava falando por falar. Em 2023, apenas 28% dos homicídios no Acre foram solucionados — um dos índices mais baixos do Norte. Agora, com a capacidade de cruzar dados digitais entre as polícias, essa taxa pode subir para 40% já no primeiro semestre de 2026.
Um acordo sem dinheiro, mas com muito poder
O mais interessante? Não há transferência de recursos. O acordo segue o modelo do Decreto Federal nº 11.531/2023, que permite cooperação técnica sem troca de verbas — apenas compartilhamento de know-how, equipamentos e dados. Isso é raro. Na maioria dos estados, parcerias entre polícias estaduais e federais dependem de emendas ou orçamentos públicos. Aqui, o que move a máquina é a vontade política e a necessidade real.Isso também significa que o acordo pode ser replicado. Já em 2025, o Ministério Público Federal firmou outro termo de cooperação com a PCAC — detalhes ainda não divulgados, mas fontes próximas à operação sugerem que envolve investigações conjuntas de lavagem de dinheiro e corrupção em licitações públicas. O que está acontecendo no Acre não é isolado: é um modelo.
Quem ganha com isso? A população
Quando a polícia trabalha em silos, os criminosos exploram as brechas. Um traficante pode ser identificado pela PF em uma operação na fronteira, mas se a PCAC não tiver acesso aos dados, ele pode voltar a atuar em Cruzeiro do Sul sem ser reconhecido. Agora, as impressões digitais coletadas em uma abordagem em Xapuri podem ser cruzadas com registros de tentativas de assalto em Rio Branco — tudo em tempo real, com autorização legal.Agentes da PCAC já começaram treinamentos com técnicos da PF sobre o uso das novas maletas. Em janeiro, uma operação conjunta está programada para desmantelar uma rede de transporte de armas que usa rios como rotas. E não é só isso: o acordo prevê a criação de uma sala de inteligência compartilhada, com acesso simultâneo a bancos de dados de antecedentes criminais, registros de veículos e histórico de comunicações.
O que vem a seguir?
O próximo passo é expandir o modelo para outras áreas. A expectativa é que, até o final de 2026, a cooperação inclua também a Polícia Militar do Acre e a Guarda Municipal de Rio Branco. Há conversas em andamento para integrar câmeras de segurança pública ao sistema de inteligência. E se tudo der certo, o Acre pode se tornar o primeiro estado da Amazônia a ter um sistema de identificação criminal integrado, funcional e em tempo real.Isso não é utopia. É o que acontece quando duas instituições deixam de competir por visibilidade e passam a competir contra o crime — juntas.
Frequently Asked Questions
Como o novo acordo vai melhorar a resolução de crimes no Acre?
Com as duas maletas de papiloscopia da Polícia Federal, o Instituto de Identificação da Polícia Civil do Acre pode identificar suspeitos em até 4 horas, contra os 72 horas anteriores. Isso aumenta a taxa de esclarecimento de homicídios e roubos, especialmente em áreas remotas. Em 2024, apenas 28% dos crimes foram solucionados — a meta é elevar isso para 40% em 12 meses.
Por que o acordo não envolve dinheiro?
O modelo segue o Decreto Federal nº 11.531/2023, que permite cooperação técnica sem transferência de recursos, apenas troca de equipamentos, treinamento e dados. Isso evita burocracias orçamentárias e acelera a implementação. A ideia é que a eficiência gerada gere economia futura, não dependa de verbas públicas.
Qual é o papel da Polícia Federal nessa parceria?
A PF traz expertise em crimes transnacionais, como tráfico de drogas e armas, e acesso a bancos de dados nacionais e internacionais. Enquanto a PCAC atua no nível local, a PF conecta os casos acreanos a redes mais amplas — como as que operam na Bolívia e no Peru. Juntas, formam uma rede de inteligência que antes não existia.
O que mudou desde o último acordo entre as polícias no Acre?
Antes, havia apenas trocas esporádicas de informações. Agora, há protocolos fixos, sala de inteligência compartilhada e equipamentos de ponta integrados. Também há compromisso formal de treinamento contínuo e operações conjuntas mensais. É uma mudança de cultura: de ‘cooperar quando der’ para ‘cooperar sempre’.
Esse modelo pode ser replicado em outros estados da Amazônia?
Sim. Estados como Rondônia e Amazonas já demonstraram interesse. O Acre é o primeiro a implementar um acordo sem verbas públicas, usando apenas tecnologia e inteligência. Se funcionar, pode virar referência nacional para regiões de fronteira com alto índice de criminalidade organizada.
Quais crimes serão priorizados no início da parceria?
Homicídios, tráfico de drogas e armas, e roubo de cargas são as prioridades iniciais. Uma operação conjunta já está marcada para janeiro de 2026 para desarticular uma rede que transporta armas pela BR-364. A ideia é usar as impressões digitais e dados de veículos para mapear rotas e identificar lideranças criminosas.