Deputado xinga Hugo Motta e protesto bolsonarista trava Câmara por 30 horas

Deputado xinga Hugo Motta e protesto bolsonarista trava Câmara por 30 horas

Ocupação inédita trava a Câmara e termina em insultos

O clima já estava pesado, mas a última cena da ocupação foi ainda mais tensa. Depois de 30 horas bloqueando a Câmara dos Deputados, o último deputado da oposição se recusou a sair enquanto disparava xingamentos ao presidente Hugo Motta: chamou-o de "bosta" e menosprezou sua altura, dizendo que tinha "1,60m". Tudo foi flagrado em vídeo e viralizou nas redes sociais, alimentando ainda mais a crise política na Casa.

A confusão começou na terça-feira, quando parlamentares bolsonaristas – liderados por nomes do PL como Sóstenes Cavalcante e Zucco, e contando também com Marcel Van Hattem do Novo – decidiram ocupar o plenário em protesto. O principal motivo era pressionar Motta para incluir na pauta o projeto de anistia, uma demanda direta por conta da repercussão da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes do STF.

Durante o protesto, os deputados da oposição chegaram a bloquear fisicamente o acesso de Motta à cadeira da presidência. O presidente só conseguiu voltar ao seu posto com ajuda de líderes de partidos do centrão, como Baleia Rossi (MDB). Boa parte do tempo, a galeria ficou às escuras, as luzes do plenário apagadas para evitar transmissões ao vivo e possíveis registros do tumulto.

Reação forte e ameaça de punições

Reação forte e ameaça de punições

O episódio indignou lideranças de partidos de centro e governo. Davi Alcolumbre, presidente do Senado, rechaçou a tentativa de intimidação e não aceitou pedidos de impeachment contra Alexandre de Moraes. Nos bastidores, ficou o recado: se a Câmara não punisse os deputados, situações como essa poderiam se repetir, minando a autoridade de Hugo Motta.

Ainda na madrugada, Motta protocolou denúncias disciplinares contra 14 deputados – 12 do PL, um do PP e um do Novo. O PT, PSB e PSOL não ficaram de fora e entraram com pedido coletivo para suspender os mandatos dos envolvidos por seis meses. O corregedor Diego Coronel (PSD-BA) tem agora 48 horas para apresentar uma resposta, podendo recomendar suspensões cautelares imediatas. Dependendo do desfecho, os casos podem parar no Conselho de Ética, o que pode resultar até em cassação de mandato.

Na fala pública mais dura até agora, Motta classificou o caso como "grave" e avisou que a presidência não está em negociação. Disse também que precisa de respostas "pedagógicas" para evitar que esse tipo de protesto se torne rotina. O presidente foi direto: "O comando da Casa não se negocia com oposição, nem governo, nem ninguém".

Apesar do caos, as atividades do plenário voltaram na quinta-feira, com a votação da Medida Provisória que cria o Programa de Gestão de Benefícios do INSS. Mesmo assim, a pressão segue grande – o texto depende do Senado e está a poucos dias de caducar, mostrando o quanto os protestos ainda travam o ritmo legislativo.

Nos corredores, ficou o sentimento de que Motta saiu enfraquecido, já que precisou do predecessor Arthur Lira para acalmar os ânimos e ainda se viu dependente dos partidos do centrão para lidar com a crise. Políticos do PP e União Brasil tentaram abafar o desgaste assumindo parte da responsabilidade pelo boicote à anistia. O receio agora é de que outros grupos tentem repetir a estratégia, cientes da dificuldade da presidência em reagir imediatamente a situações-limite.

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