Quando terremoto de magnitude 7,5 sacudiu o Drake Passage na madrugada de 21 de agosto de 2025, o United States Geological Survey (USGS) já registrava o tremor às 23:16 (UTC‑3) com profundidade de 11 km.
O epicentro ficou a cerca de 710 km da cidade argentina de Ushuaia e a 258 km a noroeste da Base Frei, estação chilena na Antártida.
Logo após o sismo, o Serviço Hidrográfico e Oceanográfico de la Armada de Chile (SHOA) disparou alerta de tsunami para o território antártico chileno, mas o Pacific Tsunami Warning Center (PTWC) e a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) cancelaram o risco em menos de duas horas.
Contexto sísmico da região do Drake Passage
Apesar de ser conhecido mais por suas águas turbulentas que desafiam navios, o Drake Passage está situado numa zona de convergência das placas Antártica, Sul‑Americana e Scotia. A taxa de subducção da placa Antártica sob a Sul‑Americana gira em torno de 2,9 cm por ano, o que gera tensão acumulada capaz de gerar terremotos inesperados.
Historicamente, a região tem menos eventos do que a costa central do Chile, mas precedentes como o sismo de 17 de janeiro de 2016 (magnitude 7,2) mostram que grandes rupturas são possíveis.
Detalhes do terremoto de 21 de agosto de 2025
O USGS divulgou inicialmente magnitude 8,0, mas revisou para 7,5 após análise detalhada das ondas sísmicas. O Centro de Geociencias da Alemanha (German Research Centre for Geosciences (GFZ)) mensurou magnitude 7,1, evidenciando variações metodológicas entre as redes de monitoramento.
O registro oficial do USGS indica coordenadas aproximadas de 56,5°S × 65,0°W, com profundidade corrigida para 11 km. O mapa ShakeMap mostrou intensidade máxima de MMI IV em Ushuaia – trepidação leve, insuficiente para causar danos estruturais.
Os sistemas de monitoramento do National Earthquake Information Center (NEIC) estimam 68 % de chance de réplicas acima de magnitude 5,0 nos próximos sete dias, especialmente nas primeiras 72 horas.
Reações das autoridades e alívio da ameaça de tsunami
Imediatamente após o sismo, o Oficina Nacional de Emergencia (ONEMI) do Chile e o Instituto Nacional de Prevención Sísmica (INPRES) da Argentina ativaram protocolos de avaliação de risco. Ambas as agências confirmaram, por volta das 03:00 h local, que não havia danos à infraestrutura de Ushuaia nem à Base Frei.
A alerta de tsunami do SHOA, emitida às 23:42 h, mencionava risco para áreas costeiras da Antártida chilena. Dois horas depois, o PTWC transmitiu “nenhum perigo de tsunami” e a NOAA, por meio de seu Ocean Prediction Center, publicou um comunicado às 01:47 UTC confirmando a ausência de ondas geradoras de impacto.
Como consequência, nenhuma ordem de evacuação foi necessária, e as populações de Ushuaia (aprox. 57 000 habitantes, segundo o INDEC) continuaram suas rotinas normalmente.
Impactos e avaliações preliminares
- Magnitude oficial: 7,5 (USGS); 7,1 (GFZ).
- Profundidade: 11 km.
- Intensidade máxima sentida: MM IV em Ushuaia.
- Alertas de tsunami cancelados em menos de 2 h.
- Zero danos materiais e nenhuma vítima relatada.
Os especialistas da Instituto Antártico Chileno (INACH) destacam que a falta de comunidades permanentes dentro de 500 km do epicentro foi decisiva para evitar perdas humanas. Ainda assim, o evento reforça a necessidade de monitoramento contínuo em áreas remotas, onde a logística de resposta é complexa.
O geólogo argentino Dr. Luis Mendoza, da Universidade Nacional de La Plata, comentou que "o Drake Passage continua sendo um ponto vulnerável, e a combinação de placas faz com que grandes rupturas sejam inesperadas".
Próximos passos e perspectivas de risco
Nas próximas 24 h, as redes de sensores sísmicos dos EUA, Alemanha e Chile continuarão registrando possíveis réplicas. Autoridades de ambos os países prometem divulgar boletins atualizados a cada seis horas, enquanto equipes de ciência da Antártida ajustam seus protocolos de segurança nas bases de pesquisa.
Se as réplicas forem confirmadas acima de magnitude 5,0, a região poderá entrar em alerta amarelo, exigindo inspeções estruturais nas instalações da Base Frei e revisões de rotas marítimas que cruzam o estreito.
Em resumo, o terremoto mostrou que, mesmo em áreas aparentemente isoladas, a interconexão geotectônica global pode gerar eventos de grande porte, lembrando a comunidade científica da importância de manter sensores operacionais e de incentivar a cooperação internacional em resposta a desastres.
Perguntas frequentes
Qual a probabilidade de novas réplicas fortes nas próximas semanas?
O USGS estima 68 % de chance de ocorrerem réplicas acima de magnitude 5,0 nos próximos sete dias, com maior probabilidade nas primeiras 72 horas após o sismo principal.
Por que o alerta de tsunami foi acionado e depois cancelado?
O SHOA emitiu o alerta imediatamente após detectar o deslocamento do fundo marinho, mas medições subsequentes do PTWC e da NOAA mostraram que a energia liberada não foi suficiente para gerar ondas de grande altura, levando ao cancelamento.
Quais cidades próximas ao epicentro foram mais afetadas?
Ushuaia experimentou apenas tremores leves (MMI IV) e não registrou danos. A Base Frei, localizada a 258 km do epicentro, também não sofreu consequências significativas.
O que esse terremoto indica sobre a atividade sísmica no Drake Passage?
Embora menos ativo que a costa chilena, o Drake Passage está inserido em uma zona de complexa interação tectônica. Eventos como este reforçam a necessidade de monitoramento constante e de estudos focados na subducção da placa Antártica.
Como a comunidade científica da Antártida está se preparando?
O INACH está revisando protocolos de evacuação nas bases, reforçando estruturas contra vibrações e ampliando a rede de sensores sísmicos locais para detectar rapidamente futuros movimentos.
Jaqueline Dias
Embora o terremoto tenha alcançado magnitude 7,5, a imprensa parece ter reduzido o debate a um mero alerta de tsunami, ignorando a elegância da tectônica subducente que molda o Drake Passage.
É imprescindível que o público reconheça que a complexidade das placas Antártica, Sul‑Americana e Scotia vai muito além de números de magnitude, exigindo uma compreensão mais refinada e quase aristocrática dos processos geológicos.