Quando Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, anunciou o fim das hostilidades, a notícia correu como fogo em Gaza.
O cessar‑fogo entrou em vigor na manhã de 10 de outubro de 2025, às 06h00 (horário de Brasília), após três dias de negociações indiretas no Egito. Dois anos atrás, em 7 de outubro de 2023, o início da guerra já deixava marcas profundas; hoje o Gaza registra 67 869 mortos e 170 000 feridos, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza controlado pelo Hamas.
Como chegamos aqui: um breve histórico
Na madrugada de 7 de outubro de 2023, militantes do Hamas atravessaram a fronteira e lançaram um ataque surpresa contra Israel, matando cerca de 1 200 civis e sequestrando 251 israelenses. A resposta israelense foi praticamente instantânea: bombardeios intensos, operando 24 horas por dia, que transformaram cidades, hospitais e escolas em escombros.
Dados do Centro de Satélites das Nações Unidas, divulgados em julho de 2025, apontam que 193 000 edifícios foram destruídos ou severamente danificados – isso inclui 213 hospitais e 1 029 escolas. Cerca de 90 % das residências foram reduzidas a ruínas, alimentando uma crise humanitária sem precedentes.
O acordo de cessar‑fogo: quem propôs e o que inclui
O plano de 20 pontos apresentado por Donald Trump prevê a libertação dos 48 reféns ainda retidos, a troca de prisioneiros palestinos, e o desarmamento do Hamas – que, segundo o acordo, não participaria da futura governança de Gaza. Um conselho internacional de líderes civis deveria assumir um governo de transição até que novos comícios políticos pudessem ser realizados.
Na prática, a primeira fase já começou: o porta‑voz israelense Shosh Bedrosian anunciou que, na segunda‑feira, os reféns vivos seriam entregues à Cruz Vermelha e transportados para a base militar de Re'im, no centro de Israel. O primeiro‑ministro Benjamin Netanyahu reforçou que o país está "pronto para receber imediatamente todos os reféns".

Reações de líderes regionais e internacionais
O vice‑presidente dos EUA, JD Vance, afirmou ao programa "Meet the Press" que a libertação dos reféns "deverá acontecer a qualquer momento". Enquanto isso, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egito destacou que as negociações focam na fase de troca de prisioneiros, mas adverte que a estabilidade a longo prazo ainda é incerta.
O professor rubro‑brasileiro Rubens Duarte, da Escola de Comando e Estado‑Maior, lembra que os conflitos nessa região têm mais de 3 000 anos de história. "Estamos mais longe de uma paz duradoura do que nunca", alerta, mas reconhece que o cessar‑fogo alivia, pelo menos, o sofrimento imediato de milhares de civis.
Impactos humanitários e respostas jurídicas
A fome aguda e o colapso dos serviços de saúde levaram a África do Sul a mover um processo contra Israel na Corte Internacional de Justiça, acusando crimes contra a humanidade. Paralelamente, um ambicioso plano chamado "Riviera Gaza" propõe transformar a região em um polo de megacidades tecnológicas – um conceito que ainda enfrenta obstáculos logísticos e políticos gigantescos.
O Brasil, por sua vez, vem defendendo um acordo que reconheça o direito palestino à autodeterminação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionou a ONU a assumir uma postura mais firme, citando o histórico de acordos como o de Oslo (1993) como bases para um futuro estado palestino.

O que vem a seguir: próximos passos e desafios
Nas próximas semanas, delegações de Israel e Hamas devem retomar as mesas de negociação em Cairo, focando na segunda fase do plano de Trump – a reconstrução de Gaza. Enquanto isso, a população civil ainda enfrenta falta de água potável, eletricidade intermitente e risco de novas explosões nas áreas ainda contaminadas por munições não detonadas.
Especialistas apontam que, sem um comprometimento sério das partes em garantir a segurança dos civis, qualquer acordo pode se desfazer rapidamente. O futuro, portanto, depende tanto da vontade política quanto da pressão da comunidade internacional para que os compromissos sejam cumpridos.
- Mortes oficiais: 67 869 (Ministério da Saúde de Gaza)
- Feridos: 170 000
- Edifícios destruídos ou danificados: 193 000
- Reféns ainda retidos: 48
- Data de início do cessar‑fogo: 10/10/2025, 06h00 (Brasília)
Perguntas Frequentes
Como o cessar‑fogo afeta os refugiados palestinos?
O acordo prevê a abertura de corredores humanitários para que refugiados possam retornar ao norte de Gaza. Contudo, a falta de infraestrutura básica ainda impede a reintegração plena, exigindo ajuda internacional para abastecimento de água e energia.
Quais são os principais obstáculos para a destruição total do Hamas?
Embora o plano de Trump inclua o desarmamento do Hamas, a organização mantém redes subterrâneas e apoios externos que dificultam a completa desarticulação. Além disso, a pressão política interna em Gaza impede soluções rápidas.
Qual o papel da comunidade internacional na reconstrução de Gaza?
Nações Unidas, União Europeia e países como a África do Sul já lançaram fundos bilionários, mas a alocação dos recursos ainda enfrenta burocracia e a necessidade de supervisão para evitar desvios.
O que mudou nas relações entre EUA e Israel após o acordo?
O apoio dos EUA ao plano de Trump mostrou uma postura mais intervencionista, reforçando a aliança estratégica com Israel, mas também gerou críticas internas quanto ao custo humano do conflito.
Como o Brasil está influenciando as negociações?
O presidente Lula tem pressionado a ONU a reconhecer oficialmente o Estado palestino, e o país tem atuado como mediador em sessões informais, buscando equilibrar os interesses regionais e a pressão da comunidade internacional.
Jaqueline Dias
A nível de análise, o cessar‑fogo mediado por Trump parece mais um movimento de fachada do que uma solução sustentada. A comunidade internacional ainda deixa escapar o que realmente importa: garantias de direitos humanos para os civis de Gaza. Enquanto isso, a retórica continua na mesma sintonia de promessas vazias.